Transição para a vida adulta no TEA: um processo que pede tempo, sensibilidade e apoio contínuo

A transição para a vida adulta no TEA é um dos momentos mais delicados e decisivos na jornada de uma pessoa autista e sua família. Atravessar a adolescência já é um desafio por si só, marcado por intensas mudanças físicas, emocionais e sociais. Quando falamos de jovens com Transtorno do Espectro Autista, essas transformações exigem ainda mais atenção, planejamento individualizado e suporte estruturado, pois não se trata apenas de crescer, mas de aprender a viver com propósito, dignidade e autonomia.
A transição para a vida adulta no TEA não acontece do dia para a noite. Ao contrário do que muitos pensam, ela deve começar bem antes dos 18 anos, sendo idealmente planejada a partir dos 14 anos. Esse processo envolve mais do que a passagem escolar. Trata-se de preparar o jovem para os diferentes papéis que ele poderá desempenhar na vida adulta, como cidadão, trabalhador, amigo, parceiro afetivo e membro ativo da comunidade.
O início da transição para a vida adulta no TEA
Aos 14 anos, o adolescente com TEA está em uma fase fundamental para iniciar a construção de seu projeto de vida. Nesse momento, incluir o jovem nas decisões é essencial. Ele precisa ser ouvido, acolhido e incentivado a reconhecer seus interesses, preferências e objetivos. Além disso, é importante realizar avaliações periódicas das habilidades adaptativas e sociais, buscando traçar metas claras para o desenvolvimento da independência.
O trabalho com rotinas de autocuidado, como escovar os dentes, escolher a própria roupa ou aprender a preparar uma refeição simples, pode parecer básico, mas é justamente o ponto de partida para uma transição para a vida adulta no TEA bem-sucedida. Quando essas habilidades são ensinadas desde cedo, com apoio visual, constância e reforço positivo, o jovem passa a se sentir mais seguro para assumir pequenas responsabilidades, o que contribui para sua autoestima e sensação de pertencimento.
O significado de independência na transição para a vida adulta no TEA
Ser independente não significa estar sozinho. Para jovens com TEA, a independência está muito mais relacionada à capacidade de tomar decisões cotidianas com autonomia, mesmo que com algum suporte. Saber organizar seus próprios horários, usar o transporte público, administrar o próprio dinheiro ou lidar com tarefas domésticas são conquistas significativas que devem ser desenvolvidas gradualmente.
Cada passo nessa direção precisa ser validado e comemorado. Muitas famílias sentem medo ao pensar em seus filhos adultos e preferem prolongar a supervisão por amor e proteção. No entanto, a transição para a vida adulta no TEA se fortalece justamente quando a confiança é construída passo a passo, sempre respeitando o ritmo individual e as possibilidades reais do jovem.
O mercado de trabalho e a transição para a vida adulta no TEA
Outro ponto crítico da transição para a vida adulta no TEA é a inserção no mundo do trabalho. Sabemos que ainda existem muitas barreiras para que pessoas autistas ocupem espaços profissionais, especialmente quando o foco das seleções está em habilidades sociais padronizadas e não nas competências reais para o cargo.
Muitos jovens autistas possuem habilidades extraordinárias como atenção a detalhes, alta memória visual, pensamento lógico, fidelidade à rotina e excelente desempenho em tarefas repetitivas. Porém, esses talentos muitas vezes são invisibilizados por ambientes sensoriais hostis ou por processos seletivos inadequados.
As empresas precisam estar abertas à inclusão verdadeira. Isso significa ajustar o ambiente, oferecer treinamentos internos, adaptar funções e permitir que o profissional autista atue com suporte e respeito às suas necessidades. Programas de intermediação de emprego, parcerias com clínicas e iniciativas públicas de capacitação profissional têm mostrado bons resultados quando há comprometimento e continuidade.
A construção da identidade e o protagonismo na transição para a vida adulta no TEA
É comum encontrarmos adolescentes com TEA que chegam à fase adulta sem compreender completamente o que significa seu diagnóstico. Isso pode gerar sentimentos de inadequação, vergonha ou isolamento. Por isso, a transição para a vida adulta no TEA também envolve a construção de uma identidade neurodivergente positiva.
Falar abertamente sobre o autismo, reconhecer os próprios limites e potenciais, participar de grupos de apoio e receber orientações sobre direitos civis e sociais são caminhos fundamentais para que o jovem se torne protagonista da sua vida. A prática da autodefensoria, conhecida como advocacy, precisa ser estimulada desde cedo. Aprender a dizer o que sente, o que precisa e o que deseja é um passo essencial para a autonomia emocional e social.
Obstáculos enfrentados durante a transição para a vida adulta no TEA
Apesar dos avanços na legislação e nas políticas de inclusão, muitos jovens autistas ainda enfrentam grandes dificuldades ao deixar o ambiente escolar. Em diversas regiões, os atendimentos terapêuticos são interrompidos abruptamente ao completar 18 anos. A falta de programas específicos para adultos, somada à escassez de oportunidades reais de socialização e trabalho, torna a transição para a vida adulta no TEA um período de vulnerabilidade significativa.
Além disso, a sociedade ainda tende a infantilizar pessoas autistas, principalmente aquelas com suporte leve ou moderado. Essa visão equivocada reforça a ideia de dependência eterna, o que limita o desenvolvimento de competências e bloqueia o exercício da cidadania plena.
Caminhos para uma transição para a vida adulta no TEA mais humanizada
Para que esse processo seja mais leve, seguro e eficaz, algumas estratégias podem fazer toda a diferença. Planejar com antecedência, por exemplo, permite que o jovem participe de experiências reais antes de precisar se posicionar como adulto. Vivências em feiras, oficinas, atividades extracurriculares e estágios supervisionados ajudam a testar possibilidades e a fortalecer a autonomia.
Trabalhar habilidades funcionais no dia a dia também é essencial. Isso inclui ensinar como resolver problemas, lidar com frustrações, administrar o tempo e desenvolver habilidades de convivência. O uso de recursos visuais, agendas organizadoras, roteiros de tarefas e tecnologias assistivas pode aumentar muito a funcionalidade e independência do jovem.
Outro ponto importante é garantir o acesso contínuo aos atendimentos terapêuticos, conforme a demanda de cada fase. A transição para a vida adulta no TEA não elimina a necessidade de suporte, apenas muda seu foco. Psicólogos, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos e profissionais de referência devem estar preparados para adaptar suas abordagens ao novo momento de vida.
Um olhar mais atento para o futuro
Cada pessoa autista é única e merece ser olhada como tal. A transição para a vida adulta no TEA não é sobre encaixar esse jovem em padrões estabelecidos, mas sim sobre construir caminhos possíveis, funcionais e respeitosos. A independência completa pode não ser o destino final para todos, mas a dignidade, o protagonismo e a inclusão devem ser metas inegociáveis.
Famílias, escolas, clínicas e sociedade precisam caminhar juntas para criar uma rede de apoio capaz de sustentar esse processo. Quando um jovem com TEA é ouvido, valorizado e encorajado a ser quem é, ele floresce. E quando isso acontece, todos ganham.
Assinatura Oficial da Autora
Artigo escrito pela Dra. Letícia Bringel, psicóloga especialista em Autismo (CRP 23/504), Mestra em ABA pela PUC/GO, Supervisora CABA BR 2024/005 e CEO do Grupo Estímulos e da Comunidade Estímulos Brasil.
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