Mudanças de rotina no TEA: como apoiar transições com respeito e segurança

As mudanças de rotina no TEA podem ser como ondas inesperadas que desorganizam um dia calmo. Enquanto muitas pessoas lidam com imprevistos de forma natural, indivíduos com Transtorno do Espectro Autista frequentemente experimentam essas transições como eventos desafiadores, capazes de gerar confusão, angústia e até comportamentos de crise. Mas a boa notícia é que mudanças de rotina no TEA podem ser vividas com mais leveza quando há planejamento, apoio e, principalmente, empatia.
A previsibilidade como forma de segurança
Pessoas com TEA, em sua maioria, encontram conforto em padrões previsíveis. As rotinas não são apenas hábitos cotidianos, mas estruturas que organizam o mundo ao redor. Quando há mudanças de rotina no TEA, o cérebro pode interpretar essa quebra como algo ameaçador. Isso se deve a alterações no processamento sensorial, na flexibilidade cognitiva e na capacidade de antecipar o que está por vir, aspectos comumente afetados em indivíduos dentro do espectro, conforme descrito pelo DSM-5 (APA, 2013).
É como se a rotina fosse um mapa conhecido e, de repente, esse mapa desaparecesse. A ausência de previsibilidade ativa o sistema de alerta interno, gerando reações que variam desde agitação e isolamento até crises sensoriais. Por isso, é essencial que cuidadores, familiares e profissionais compreendam a importância de estratégias de apoio em situações de mudanças de rotina no TEA.
Estratégias eficazes para tornar as mudanças de rotina no TEA mais acolhedoras
Vamos explorar agora algumas práticas baseadas em evidências que ajudam a tornar as mudanças de rotina no TEA menos estressantes e mais compreensíveis:
1. Antecipar com imagens e palavras claras
O uso de recursos visuais, como quadros de rotina, pictogramas e agendas com fotos, é uma das estratégias mais eficazes para preparar a pessoa com TEA para o que está por vir. Um simples “daqui a pouco vamos ao médico” pode ser muito abstrato. Já mostrar uma sequência visual do que vai acontecer ajuda o cérebro a se organizar diante da mudança.
2. Criar rituais de transição
Nas mudanças de rotina no TEA, pequenos rituais podem funcionar como pontes de segurança. Um exemplo é utilizar sempre a mesma música antes de sair de casa ou contar até dez ao trocar de atividade. São sinais previsíveis que ajudam a avisar o corpo e a mente que algo novo virá, reduzindo a ansiedade.
3. Utilizar histórias sociais
As histórias sociais, criadas originalmente por Carol Gray, são ferramentas valiosas no universo das mudanças de rotina no TEA. Elas explicam situações novas por meio de imagens e textos simples, descrevendo o que acontecerá e como a pessoa pode agir. Uma história social pode preparar a criança para ir a uma nova escola, visitar o dentista ou receber visitas em casa, tornando o desconhecido mais familiar.
4. Praticar a flexibilidade de forma gradual
A flexibilidade é uma habilidade que pode ser desenvolvida com cuidado. Introduzir pequenas mudanças planejadas — como trocar o lugar de uma refeição ou a ordem do banho e escovação — ajuda a preparar o cérebro para situações imprevistas. O treino gentil e intencional é uma forma respeitosa de expandir a tolerância diante das mudanças de rotina no TEA.
5. Oferecer objetos de conforto
Itens sensoriais como fones de ouvido, brinquedos macios, mantas ou bonecos favoritos servem como ancoragem emocional em momentos de transição. Esses objetos ajudam a criar um senso de continuidade mesmo quando o ambiente ao redor está mudando. Nos casos de mudanças de rotina no TEA, contar com esses apoios pode ser essencial para evitar sobrecargas.
6. Respeitar o tempo de cada um
O tempo de processamento de informações pode ser diferente para pessoas com TEA. Após uma mudança, como a chegada em um ambiente novo, é importante permitir pausas silenciosas, sem exigir respostas imediatas. A pressa pode gerar sobrecarga, enquanto o tempo respeitado promove segurança. Durante as mudanças de rotina no TEA, o respeito ao tempo é um ato de cuidado profundo.
7. Envolver todos os contextos
As mudanças de rotina no TEA não se restringem ao lar. Por isso, é essencial envolver professores, terapeutas e familiares em um esforço conjunto para garantir que as transições sejam compreendidas e apoiadas em todos os contextos. Uma comunicação clara entre os adultos responsáveis pela criança fortalece a consistência e reduz os riscos de desorganização emocional.
Um exemplo que ilumina
Lucas, 5 anos, autista, tinha muita dificuldade para aceitar sair do parquinho na escola. Chorava, se jogava no chão e se recusava a ir para a sala. A equipe pedagógica, com apoio da terapeuta, construiu um quadro visual com o passo a passo da rotina. Antes de ir ao parquinho, Lucas recebia o aviso visual: “Depois do parquinho, vamos para a sala”. Também passou a escolher um brinquedo pequeno para levar consigo nessa transição. Em poucas semanas, Lucas passou a sair do parquinho mais tranquilo, sem crises. As mudanças de rotina no TEA não deixaram de existir, mas se tornaram mais previsíveis e respeitosas para ele.
Quando há suporte, há crescimento
É fundamental compreender que mudanças de rotina no TEA não precisam ser evitadas, mas sim mediadas com empatia e estratégias. Cada transição vivida com apoio fortalece a autonomia, a autoestima e a confiança. Essa construção gradual permite que a pessoa com TEA expanda seus repertórios e participe ativamente de experiências sociais e de aprendizado.
Mudanças fazem parte da vida. O desafio está em transformar o novo em algo menos assustador e mais acolhedor. Quando o cuidado é constante, o ambiente se adapta e a pessoa com TEA pode florescer.
Adaptar é um gesto de amor
É importante lembrar que não existe uma fórmula única. Cada indivíduo com TEA tem suas preferências, sensibilidades e formas de comunicação. Escutar com atenção, testar estratégias e observar com empatia são atitudes que fazem toda a diferença nas mudanças de rotina no TEA.
Ao invés de tentar impor o novo, devemos abrir espaço para que ele seja explorado com calma, segurança e acolhimento. Dessa forma, as mudanças deixam de ser fontes de sofrimento e passam a ser oportunidades de crescimento, vínculo e aprendizado.
Assinatura oficial da autora:
Artigo escrito pela Dra. Letícia Bringel, psicóloga especialista em Autismo (CRP 23/504), Mestra em ABA pela PUC/GO, Supervisora CABA BR 2024/005 e CEO do Grupo Estímulos e da Comunidade Estímulos Brasil.
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