Impactos motores no autismo: compreendendo as dificuldades e promovendo autonomia com cuidado e ciência

Quando pensamos em autismo, é comum associarmos o diagnóstico a desafios na comunicação, na interação social ou na sensibilidade sensorial. No entanto, os impactos motores no autismo também merecem atenção especial. Eles fazem parte da complexidade do Transtorno do Espectro Autista e afetam significativamente o desenvolvimento global, a funcionalidade e a qualidade de vida da criança.
Compreender os impactos motores no autismo é essencial para que possamos identificar sinais precoces, propor intervenções eficazes e garantir que cada criança tenha a oportunidade de explorar seu potencial com dignidade. Neste artigo, vamos refletir sobre o que são os impactos motores no autismo, como eles se manifestam e quais estratégias podem ser utilizadas para favorecer a autonomia e o bem-estar.
Impactos motores no autismo e o desenvolvimento da criança
O desenvolvimento motor envolve a aquisição progressiva de habilidades físicas que permitem à criança explorar o mundo ao seu redor. Desde os primeiros movimentos reflexos, passando por sentar, engatinhar, andar, correr, manipular objetos, escrever e se alimentar, todas essas etapas fazem parte de um processo integrado entre o corpo, o cérebro e as experiências do ambiente.
Nos casos de Transtorno do Espectro Autista, os impactos motores no autismo podem surgir já nos primeiros anos de vida. Eles se apresentam de forma diversa, afetando tanto a motricidade fina quanto a motricidade grossa, e interferem em habilidades fundamentais para a participação da criança em contextos sociais, escolares e terapêuticos.
A criança pode demorar mais para caminhar, ter dificuldades em manter o equilíbrio, apresentar uma coordenação motora desorganizada ou apresentar resistência a movimentos corporais específicos. Esses sinais precisam ser observados com atenção e interpretados à luz das necessidades sensoriais e cognitivas da criança.
Como os impactos motores no autismo se manifestam no dia a dia
Os impactos motores no autismo podem variar em intensidade e tipo. Em muitos casos, observamos dificuldades em planejar e executar movimentos voluntários, alterações no tônus muscular, postura desalinhada e desequilíbrios na coordenação global.
Uma das manifestações mais comuns dos impactos motores no autismo é o chamado déficit de planejamento motor. Isso significa que a criança tem dificuldade para planejar uma sequência de movimentos de forma coordenada. Por exemplo, ao tentar subir uma escada ou amarrar os cadarços, ela pode se atrapalhar na ordem dos passos ou executar os movimentos de forma ineficiente.
Outro impacto frequente é a hipotonia, que é a diminuição do tônus muscular. A criança com hipotonia tende a ter uma postura mais “mole”, cansa-se com facilidade e apresenta dificuldades para manter o corpo firme em atividades simples como sentar-se adequadamente ou segurar um lápis com estabilidade.
Também é comum observar alterações no padrão de marcha, como caminhar na ponta dos pés ou ter um andar desorganizado. Essas dificuldades interferem não apenas na mobilidade, mas também na interação social, já que muitas brincadeiras infantis envolvem corrida, pular e jogos com bola.
Impactos motores no autismo e as barreiras para a autonomia
Os impactos motores no autismo afetam diretamente a conquista de habilidades adaptativas. Tarefas que fazem parte da vida diária, como vestir-se, pentear o cabelo, escovar os dentes, alimentar-se com talheres ou escrever, exigem controle motor fino, coordenação olho-mão e regulação sensorial.
Quando esses movimentos não estão bem integrados, a criança pode evitar certas atividades ou depender excessivamente de ajuda para realizá-las. Isso reduz sua autonomia, fragiliza sua autoestima e limita sua participação em diferentes contextos.
Além disso, os impactos motores no autismo podem dificultar a permanência em ambientes escolares. Sentar-se corretamente, copiar da lousa, manter o foco em uma tarefa motora ou participar de atividades de educação física tornam-se desafios cotidianos que, muitas vezes, passam despercebidos ou são interpretados de forma inadequada.
A psicomotricidade como aliada no tratamento dos impactos motores no autismo
Diante desse cenário, a psicomotricidade surge como uma abordagem terapêutica fundamental para intervir nos impactos motores no autismo. A psicomotricidade trabalha a integração entre o corpo, o afeto e a cognição, por meio de atividades que estimulam o movimento de forma lúdica, estruturada e respeitosa.
O objetivo não é apenas desenvolver habilidades motoras isoladas, mas promover a organização corporal, o equilíbrio, a percepção espacial, a noção de tempo e a consciência de si. Esses elementos são essenciais para que a criança ganhe segurança nos movimentos, explore o ambiente com autonomia e aprimore suas relações sociais.
Na prática, o psicomotricista propõe jogos, circuitos motores, desafios corporais e atividades simbólicas que respeitam o ritmo da criança e favorecem a aprendizagem motora de maneira prazerosa. O vínculo estabelecido na relação terapêutica é um elemento central para que a criança se sinta segura e engajada no processo.
A importância da intervenção precoce diante dos impactos motores no autismo
Quanto mais cedo os impactos motores no autismo forem identificados, maiores são as chances de minimizar seus efeitos a longo prazo. A intervenção precoce tem o potencial de reorganizar o desenvolvimento motor, promover ganhos significativos de funcionalidade e prevenir a instalação de padrões posturais inadequados ou compensações prejudiciais.
Durante os primeiros anos de vida, o cérebro apresenta alta plasticidade, o que significa maior capacidade de adaptação e aprendizagem. Por isso, crianças com diagnóstico de autismo devem ser avaliadas também quanto aos seus marcos motores e, quando necessário, encaminhadas para terapia ocupacional, fisioterapia ou psicomotricidade.
A família tem papel fundamental nesse processo. Observar os movimentos da criança, estimular o brincar ativo, oferecer oportunidades para exploração corporal e respeitar os sinais de desconforto ajudam a fortalecer o vínculo e a promover o desenvolvimento de forma integrada.
Impactos motores no autismo e a construção de ambientes acessíveis
Os impactos motores no autismo não afetam apenas a criança. Eles exigem que os ambientes em que ela circula sejam repensados em termos de acessibilidade, segurança e oportunidade de participação. Isso vale para escolas, espaços de lazer, clínicas, transporte e ambientes domésticos.
A escola, por exemplo, deve estar preparada para adaptar atividades motoras, oferecer materiais com empunhaduras adequadas, garantir tempo extra para realização de tarefas e acolher a diversidade nos estilos de movimentação. A ausência dessas adaptações pode levar a frustrações, isolamento e recusa escolar.
Em casa, é importante criar espaços que estimulem o movimento de forma segura. Brincar no chão, subir em almofadas, empurrar caixas, explorar diferentes texturas e se movimentar ao som de músicas são formas simples e eficazes de estimular o desenvolvimento motor em contextos naturais.
Considerações finais
Os impactos motores no autismo fazem parte da complexidade do desenvolvimento de muitas crianças autistas. Eles interferem diretamente na aprendizagem, na autonomia e na participação social. No entanto, com olhar atento, intervenções sensíveis e práticas fundamentadas, é possível oferecer caminhos de superação e crescimento.
A psicomotricidade, aliada a outras terapias especializadas, permite que a criança fortaleça sua relação com o próprio corpo, desenvolva habilidades funcionais e se conecte ao mundo com mais confiança. O papel da família, da escola e dos profissionais de saúde é criar uma rede de apoio que acolha, respeite e estimule a criança a explorar seu potencial com liberdade e segurança.
Falar sobre os impactos motores no autismo é promover inclusão de verdade. É reconhecer que o corpo é um canal legítimo de expressão e de encontro, e que todas as crianças, independentemente de suas dificuldades, têm o direito de brincar, aprender e pertencer.
Assinatura oficial da autora:
Artigo escrito pela Dra. Letícia Bringel, psicóloga especialista em Autismo (CRP 23/504), Mestra em ABA pela PUC/GO, Supervisora CABA BR 2024/005 e CEO do Grupo Estímulos e da Comunidade Estímulos Brasil.
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