Autismo e Aeroportos: Como Garantir uma Viagem Acolhedora e Segura

autismo e aeroportos

Viajar de avião, para muitas famílias, é sinônimo de alegria, férias e novas descobertas. No entanto, quando falamos sobre autismo e aeroportos, essa experiência pode se tornar uma jornada repleta de desafios. Sons altos, filas longas, luzes intensas e mudanças inesperadas na rotina são apenas alguns dos fatores que podem causar sobrecarga sensorial em pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA).

Compreender as necessidades de quem vive com autismo é o primeiro passo para tornar os aeroportos e aviões ambientes verdadeiramente inclusivos. Neste artigo, vamos explorar estratégias práticas, exemplos reais e orientações fundamentais para ajudar famílias, profissionais e companhias aéreas a tornar essa experiência mais tranquila para todos.

Autismo e aeroportos

O ambiente de um aeroporto é, por natureza, imprevisível e estimulante. Para uma pessoa com autismo, especialmente crianças ou adolescentes, isso pode representar um cenário de sobrecarga. O autismo é uma condição do neurodesenvolvimento caracterizada por diferenças na comunicação, comportamento e processamento sensorial, conforme definido pelo DSM-5 (American Psychiatric Association, 2013).

Algumas dificuldades comuns enfrentadas em aeroportos incluem:

  • Sensibilidade a ruídos, como anúncios no alto-falante ou motores das aeronaves.
  • Incômodo com luzes fluorescentes ou ambientes muito movimentados.
  • Dificuldade de espera em filas extensas e ambientes lotados.
  • Ansiedade relacionada à mudança de rotina e espaços desconhecidos.
  • Necessidade de previsibilidade e informações claras.

Planejamento é inclusão

Uma viagem bem-sucedida para uma pessoa com autismo começa muito antes do embarque. O contato antecipado com a companhia aérea é essencial. Muitas empresas oferecem atendimento especial quando informadas com antecedência – geralmente com pelo menos 48 horas – sobre as necessidades do passageiro com autismo.

Essa comunicação prévia pode garantir recursos como:

  • Etiquetas de identificação ou crachás personalizados, facilitando o reconhecimento da necessidade de suporte por parte dos funcionários do aeroporto.
  • Escolha antecipada de assentos, especialmente no corredor ou na frente da aeronave.
  • Prioridade no embarque, evitando filas e ambientes superlotados.
  • Acesso a áreas silenciosas, quando disponíveis, para reduzir a sobrecarga sensorial.

Uma sugestão prática é criar, junto com a criança ou jovem, um “guia visual da viagem”, utilizando fotos do aeroporto, da aeronave, do destino e de todas as etapas do processo. Isso pode ser feito com o apoio da equipe terapêutica ou familiar. Essa antecipação reduz significativamente a ansiedade em pessoas com autismo.

Autismo e aeroportos

Ao embarcar, outro desafio se apresenta: o ambiente da aeronave. Dentro do avião, os estímulos continuam presentes, mas com o preparo correto, é possível proporcionar conforto e segurança.

Muitas companhias aéreas já disponibilizam:

  • Fones de ouvido com cancelamento de ruído.
  • Ajustes na iluminação da cabine.
  • Treinamento da tripulação para acolhimento respeitoso e orientação clara.

Os assentos no corredor, por exemplo, facilitam idas ao banheiro e oferecem uma sensação de maior liberdade. Tripulantes capacitados para reconhecer sinais de estresse ou desconforto em passageiros com autismo fazem toda a diferença, acolhendo com empatia e respeitando os limites de cada um.

Um exemplo real de superação nos aeroportos

Lucas, um menino de 8 anos com diagnóstico de autismo, sonhava em ver o mar. Seus pais, preocupados com a possibilidade de uma crise durante o voo, planejaram com cuidado cada detalhe. Ligaram para a companhia aérea com uma semana de antecedência, solicitaram embarque prioritário, prepararam um álbum com imagens da viagem e explicaram à tripulação sobre as necessidades do filho.

No aeroporto, Lucas usava um crachá com seu nome, uma pulseira de identificação e seus fones com isolamento de som. Durante o voo, a comissária explicou com delicadeza todos os procedimentos e respeitou o tempo dele para se adaptar. Resultado? Lucas viu o mar pela primeira vez e voltou para casa falando sobre o avião com alegria.

Histórias como essa mostram que, quando há preparo e acolhimento, viajar é possível e prazeroso para pessoas com autismo.

Capacitação é chave

Para que a experiência seja positiva, é indispensável que profissionais dos aeroportos e das companhias aéreas estejam treinados para acolher o autismo com sensibilidade. Não se trata apenas de cumprir protocolos, mas de desenvolver uma escuta atenta e uma postura empática.

Programas de capacitação devem incluir:

  • Noções básicas sobre o Transtorno do Espectro Autista.
  • Como identificar sinais de sobrecarga sensorial ou crises.
  • Maneiras adequadas de oferecer ajuda sem invadir o espaço da pessoa com autismo.
  • Técnicas de comunicação simples e direta.
  • Postura calma e sem julgamentos.

O autismo e aeroportos não precisam ser uma combinação difícil, desde que haja preparo e intenção genuína de incluir.

Diretrizes internacionais e o direito à acessibilidade

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), aproximadamente 1 em cada 100 crianças em todo o mundo está no espectro do autismo. Isso significa que medidas de acessibilidade em aeroportos são não apenas bem-vindas, mas necessárias.

A Lei Brasileira de Inclusão (Lei nº 13.146/2015) garante às pessoas com deficiência, incluindo aquelas com autismo, o direito ao transporte acessível, à comunicação adequada e à prioridade no atendimento. O autismo e aeroportos precisam caminhar juntos dentro da legalidade e do respeito à dignidade humana.

Quando viajar é também uma forma de empoderar

É importante lembrar que cada viagem, por mais curta que seja, pode representar uma conquista significativa para uma pessoa com autismo. A experiência de se deslocar, conhecer novos lugares e interagir com diferentes contextos fortalece habilidades sociais, amplia repertórios e contribui para a autonomia.

Para muitas famílias, realizar uma viagem com um filho autista é um marco. É também uma forma de mostrar ao mundo que, com os apoios adequados, o autismo não limita sonhos. Pelo contrário, convida todos a pensarem em formas mais justas e acessíveis de viver e se locomover.

Dicas práticas para famílias

  1. Antecipe o máximo possível: Crie um roteiro visual da viagem e converse sobre cada etapa com a criança.
  2. Comunique-se com a companhia aérea: Informe a necessidade de assistência especial com antecedência.
  3. Use elementos de conforto: Leve objetos que tragam segurança (brinquedos, mantas, fones).
  4. Tenha um plano B: Caso ocorra uma crise, combine sinais com a equipe e identifique áreas de escape ou descanso.
  5. Valorize as pequenas vitórias: Celebrar cada avanço reforça a autoestima e a coragem da criança.

Conclusão

A inclusão de pessoas com autismo nos aeroportos não é um favor, é um direito. E quando os direitos se encontram com a empatia, surgem viagens que não são apenas deslocamentos físicos, mas experiências humanas profundas e transformadoras.

Falar sobre autismo e aeroportos é, portanto, falar sobre respeito, planejamento, capacitação e acolhimento. É possível voar mais alto quando todos têm lugar garantido a bordo da inclusão.

Assinatura da autora:
Artigo escrito pela Dra. Letícia Bringel, psicóloga especialista em Autismo (CRP 23/504), Mestra em ABA pela PUC/GO, Supervisora CABA BR 2024/005 e CEO do Grupo Estímulos e da Comunidade Estímulos Brasil.

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