Como escolher brinquedos adequados para crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA)

Transtorno do Espectro Autista (TEA)

O brincar é uma linguagem fundamental da infância. Por meio dele, as crianças experimentam o mundo, expressam emoções, desenvolvem habilidades e constroem vínculos. Quando falamos sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA), é essencial compreender que o brincar pode ter características diferentes, e que a escolha dos brinquedos certos pode ser uma ponte poderosa entre o desenvolvimento e o afeto.

Escolher brinquedos adequados para crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) não significa limitar suas possibilidades, mas sim ampliar suas experiências de forma respeitosa, segura e significativa. Esse processo exige sensibilidade, conhecimento técnico e, acima de tudo, escuta às necessidades individuais da criança.

A importância do brincar para o desenvolvimento no TEA

Crianças com TEA apresentam padrões de desenvolvimento distintos, o que inclui diferenças na forma de brincar. Algumas podem preferir brincadeiras repetitivas, enquanto outras evitam interações sociais durante o brincar. Ainda assim, o brincar permanece um recurso terapêutico e educacional riquíssimo.

Estudos demonstram que brinquedos adequados ao perfil sensorial e cognitivo da criança com TEA favorecem o engajamento e o aprendizado funcional. Brincar, nesse contexto, pode ajudar no desenvolvimento da linguagem, na interação social, na autorregulação emocional e na coordenação motora (DSM-5, 2014; Schreibman et al., 2015).

Como escolher brinquedos para crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA)

Selecionar brinquedos para crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) envolve observar atentamente o estágio de desenvolvimento da criança, suas preferências e seus desafios. A seguir, apresentamos algumas diretrizes baseadas na prática clínica e na literatura científica:

Considere o estágio de desenvolvimento, não apenas a idade

Cada criança com Transtorno do Espectro Autista (TEA) apresenta um perfil único de desenvolvimento. Duas crianças com a mesma idade cronológica podem ter habilidades completamente distintas. Por isso, o mais importante é observar o que a criança já consegue fazer e onde precisa de apoio.

Se uma criança ainda está desenvolvendo o uso funcional dos objetos, brinquedos de encaixe simples podem ser mais adequados do que jogos de regras complexas. A ideia é oferecer experiências que desafiem suavemente, sem gerar frustração.

Aposte em brinquedos sensoriais com intencionalidade

Brinquedos sensoriais como massinhas, slimes, bolinhas em gel e brinquedos com luzes suaves e sons controlados podem ser aliados importantes. Eles ajudam na integração sensorial, um aspecto frequentemente desafiador no Transtorno do Espectro Autista (TEA).

Entretanto, é importante lembrar que nem toda criança gosta desses estímulos. O que é calmante para uma pode ser aversivo para outra. Por isso, conhecer o perfil sensorial individual é essencial.

Estimule a interação social por meio do brincar

Jogos de tabuleiro simples, brinquedos de faz-de-conta ou brincadeiras em dupla ajudam a promover habilidades sociais. No Transtorno do Espectro Autista (TEA), a interação social pode ser desafiadora, e o brinquedo se torna uma oportunidade natural para construir pontes.

Um exemplo prático é o uso de bonecos para representar cenas do cotidiano, como ir à escola ou ao médico. A criança pode projetar emoções e aprender, de forma simbólica, a lidar com essas situações.

Escolha brinquedos estruturados e com lógica previsível

Crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) geralmente se beneficiam de brinquedos com começo, meio e fim claros. Isso traz segurança, previsibilidade e favorece o raciocínio lógico. Brinquedos como blocos de montar, quebra-cabeças e jogos de encaixe são excelentes exemplos.

Brincadeiras com sequência também ajudam a desenvolver a atenção compartilhada e a noção de causa e efeito, habilidades importantes para a comunicação.

Desenvolva a coordenação motora com brincadeiras

A motricidade, tanto fina quanto ampla, é fundamental no desenvolvimento infantil. Crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) podem apresentar atrasos nesses aspectos, e os brinquedos são ótimas ferramentas para promover avanços.

Atividades como empilhar blocos, encaixar formas, montar trilhas com obstáculos, ou jogar bola ajudam a trabalhar desde a força muscular até a coordenação visual-motora e o planejamento motor.

Prefira brinquedos simples e com controle de estímulos

Brinquedos muito complexos ou imprevisíveis podem causar sobrecarga sensorial. No Transtorno do Espectro Autista (TEA), é comum que estímulos intensos como sons altos, luzes piscando ou movimentos bruscos gerem ansiedade ou desconforto.

Portanto, escolha brinquedos que ofereçam controle sobre os estímulos: que tenham volume ajustável, luz suave ou que possam ser pausados. Isso contribui para que o brincar aconteça de forma mais regulada.

Leve em conta os interesses específicos da criança

Muitas crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) têm interesses intensos por temas específicos, como dinossauros, trens ou planetas. Utilizar esses temas como base para o brincar é uma forma eficaz de gerar engajamento.

Por exemplo, se uma criança ama carros, podemos usar miniaturas para trabalhar turnos, contagem, localização espacial e até histórias sociais. Isso respeita sua motivação interna e favorece o vínculo.

Proporcione autonomia com desafios possíveis

Brinquedos com níveis de dificuldade ajustáveis, como quebra-cabeças com diferentes quantidades de peças, incentivam a criança com Transtorno do Espectro Autista (TEA) a se desafiar. Superar etapas no próprio ritmo aumenta a autoestima e estimula a persistência.

Oferecer ajuda quando necessário, mas sempre permitindo que a criança tente, reforça a autonomia e a confiança nas próprias capacidades.

Exemplo ilustrativo

Pedro, uma criança com Transtorno do Espectro Autista (TEA) de 4 anos, costumava rejeitar brinquedos novos. Um dia, sua terapeuta trouxe uma caixa com blocos grandes, coloridos, e sugeriu montar uma torre juntos. No início, Pedro apenas observava. Após alguns minutos, pegou uma peça. Na semana seguinte, construiu uma torre sozinho. Depois, incluiu a mãe na brincadeira.

Aquele simples brinquedo estruturado, alinhado ao interesse visual e ao perfil motor de Pedro, tornou-se uma ponte entre ele, o outro e o mundo.

Exemplos de brinquedos adequados para crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA)

  • Sensoriais: massinhas, fidget toys, areia mágica, slimes, painéis táteis
  • Sociais: jogos de memória, bonecos articulados, brinquedos de faz-de-conta
  • Estruturados: quebra-cabeças, torres de empilhar, blocos de montar
  • Motores: bolas de diferentes tamanhos, circuitos com obstáculos, brinquedos para arremesso e corrida

Conclusão

Escolher brinquedos para crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma ação que vai além do entretenimento. É sobre favorecer o desenvolvimento, respeitar singularidades e criar oportunidades de afeto e descoberta.

Ao observar com carinho, ajustar às necessidades e oferecer experiências que façam sentido, tornamos o ato de brincar um terreno fértil para o florescer da infância.

Assinatura da autora

Artigo escrito pela Dra. Letícia Bringel, psicóloga especialista em Autismo (CRP 23/504), Mestra em ABA pela PUC/GO, Supervisora CABA BR 2024/005 e CEO do Grupo Estímulos e da Comunidade Estímulos Brasil.

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