TDAH e Alexa: Como a Tecnologia Está Transformando a Vida de Pessoas com TDAH

Vivenciar o Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) é lidar, diariamente, com desafios relacionados à atenção, impulsividade e organização. Para muitas famílias, educadores e profissionais da saúde, encontrar estratégias acessíveis e eficazes para apoiar quem convive com o TDAH é um compromisso contínuo. Nesse cenário, a tecnologia vem se destacando como uma ferramenta poderosa, e a recente parceria entre a Amazon e a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) reforça essa tendência ao colocar a Alexa, assistente virtual da Amazon, como uma aliada no cuidado com o TDAH.
A proposta da parceria
O objetivo principal dessa colaboração é tornar a tecnologia uma ponte entre a ciência e o cotidiano das pessoas com TDAH. A ABP, por meio de seu presidente, o psiquiatra Antônio Geraldo, destacou a importância de oferecer conteúdo confiável e acessível para quem enfrenta os desafios do TDAH. A cartilha lançada especialmente para a Alexa traz orientações práticas para o uso da assistente virtual como ferramenta de suporte ao desenvolvimento de habilidades como atenção, autorregulação e gerenciamento do tempo.
Essa proposta é especialmente relevante porque une dois pilares fundamentais no tratamento do TDAH: informação baseada em evidências e ferramentas que promovem autonomia.
Como a Alexa pode apoiar no dia a dia de quem tem TDAH
A atuação da Alexa no cotidiano vai muito além de tocar músicas ou responder perguntas. Para pessoas com TDAH, suas funcionalidades podem ser verdadeiros recursos terapêuticos, especialmente quando utilizadas com intencionalidade.
1. Gerenciamento do tempo
Pessoas com TDAH frequentemente enfrentam dificuldades para lidar com prazos e compromissos. A Alexa permite a criação de lembretes, alarmes e cronômetros, ajudando a organizar o dia de forma mais estruturada. Um adolescente pode, por exemplo, programar alertas para tomar medicação ou iniciar uma tarefa escolar. Essa função reduz a sobrecarga de memória operacional, algo desafiador para quem vive com o TDAH.
2. Criação de listas e apoio à organização
Outra funcionalidade importante é a possibilidade de criar listas de tarefas, de compras ou lembretes personalizados. Imagine uma mãe que cuida de uma criança com TDAH: ao envolver a criança no uso da Alexa para listar itens da mochila escolar, ela está promovendo habilidades de planejamento e autonomia funcional.
3. Auxílio à concentração
A Alexa pode ser programada para ativar sons relaxantes, músicas instrumentais ou ambientes sonoros que favorecem o foco. Em contextos de estudo, por exemplo, ativar uma “rotina de leitura” com iluminação adequada e música suave pode criar um ambiente favorável à atenção sustentada, um dos grandes desafios do TDAH.
4. Regulação emocional
Momentos de sobrecarga emocional são comuns em pessoas com TDAH, especialmente quando há frustração, barulho excessivo ou transições inesperadas. Nesses momentos, a Alexa pode ajudar ao oferecer sons de natureza, exercícios respiratórios ou frases reconfortantes programadas pela própria família. É como ter um “apoio emocional digital” à disposição, algo que pode complementar estratégias terapêuticas presenciais.
5. Automatização de rotinas
A construção de rotinas consistentes é essencial para o manejo do TDAH. A Alexa permite programar sequências automatizadas, como “rotina da manhã” (acender luz, tocar música, lembrar do café e dos materiais escolares). Isso reduz o número de comandos e decisões que a pessoa precisa tomar ao longo do dia, facilitando o engajamento em comportamentos funcionais e previsíveis.
TDAH e acessibilidade digital
No Brasil, 1 em cada 3 pessoas com deficiência já utiliza assistentes virtuais como a Alexa. Isso mostra o quanto a acessibilidade digital está se tornando uma aliada real para diferentes perfis de neurodivergência. No caso do TDAH, essa acessibilidade se traduz em oportunidades para o fortalecimento da independência e da organização pessoal.
Além disso, o uso de tecnologias assistivas como a Alexa aproxima as famílias do universo digital de maneira prática e não intimidante. Ao mesmo tempo em que promove a autonomia da pessoa com TDAH, também oferece aos cuidadores e profissionais de saúde um recurso complementar na intervenção.
A tecnologia como aliada da inclusão
Importante lembrar que, embora o foco inicial da parceria seja o TDAH, a proposta da ABP em colaboração com a Amazon prevê expansão para outras condições de saúde mental, como ansiedade e depressão. Isso sinaliza uma mudança cultural significativa: estamos aproximando a tecnologia do cuidado afetivo e da escuta clínica, reduzindo estigmas e ampliando o acesso à informação de qualidade.
Exemplo prático
Caio tem 10 anos e recebeu o diagnóstico de TDAH aos 7. Desde então, sua família vem buscando formas de ajudá-lo a organizar o tempo e lidar com a frustração. A mãe de Caio relatou que, após a integração da Alexa na rotina da casa, notou mudanças significativas.
Todas as manhãs, a Alexa inicia a rotina com uma música alegre, lembra Caio de escovar os dentes, tomar o remédio e conferir a mochila. Durante as tarefas de casa, a assistente ativa o “modo concentração”, com som de chuva e luz reduzida. Quando Caio se sente sobrecarregado, pode pedir que a Alexa toque um som do mar ou conte uma piada leve.
Esse exemplo real ilustra como a tecnologia, quando bem direcionada, pode promover bem-estar, reduzir o estresse familiar e reforçar a autonomia da criança com TDAH.
TDAH e Alexa
É essencial lembrar que a Alexa não substitui o acompanhamento profissional, mas pode ser uma aliada complementar importante. O uso de assistentes virtuais deve ser orientado por terapeutas, educadores ou familiares, garantindo que o recurso seja usado com segurança, respeito e foco nas necessidades da pessoa.
Para muitos, o TDAH é vivido como uma montanha-russa diária. Ter ao lado uma ferramenta que guia, lembra e acalma pode fazer toda a diferença. O importante é que a tecnologia seja usada com sensibilidade, respeitando o ritmo e a individualidade de cada um.
Conclusão
A parceria entre Amazon e ABP representa um passo inovador na promoção do cuidado digital. Ao aliar o potencial da inteligência artificial com os conhecimentos da psiquiatria e da psicologia, estamos criando pontes reais entre o mundo da saúde mental e o cotidiano das famílias.
O TDAH não é uma limitação intransponível. Com os apoios certos, é possível construir rotinas mais leves, funcionais e felizes. E nesse caminho, a tecnologia pode ser mais do que uma ferramenta: pode ser companhia, estrutura e afeto.
Assinatura oficial da autora:
Artigo escrito pela Dra. Letícia Bringel, psicóloga especialista em Autismo (CRP 23/504), Mestra em ABA pela PUC/GO, Supervisora CABA BR 2024/005 e CEO do Grupo Estímulos e da Comunidade Estímulos Brasil.
Faça abaixo o seu comentário...