Grupos de habilidades sociais: caminhos terapêuticos para promover inclusão e autonomia no autismo

Quando falamos sobre o desenvolvimento de pessoas com autismo, é essencial considerar não apenas aspectos acadêmicos ou comportamentais, mas também o universo das interações sociais. Para muitos autistas, compreender as regras sociais implícitas, sustentar diálogos e interpretar sinais não verbais representa um grande desafio. É nesse contexto que os grupos de habilidades sociais se apresentam como uma estratégia terapêutica eficaz, ética e profundamente transformadora.
Os grupos de habilidades sociais são espaços estruturados, conduzidos por profissionais especializados, onde pessoas com dificuldades na interação social, como aquelas com Transtorno do Espectro Autista (TEA), podem aprender, praticar e fortalecer competências fundamentais para a convivência. O objetivo desses grupos vai muito além da simples troca de palavras. Eles promovem pertencimento, segurança, empatia e, principalmente, respeito à diversidade nas formas de se comunicar e de se conectar com o outro.
Este artigo apresenta, com base em evidências científicas e linguagem acessível, a importância dos grupos de habilidades sociais no contexto do autismo. Vamos compreender como funcionam, quais benefícios oferecem, como podem ser aplicados e por que são uma ferramenta indispensável para o desenvolvimento de crianças e adolescentes autistas.
O que são grupos de habilidades sociais
Os grupos de habilidades sociais são encontros terapêuticos planejados, nos quais participantes com dificuldades de interação aprendem, por meio da vivência prática e do apoio profissional, como desenvolver competências sociais. Essas competências incluem desde iniciar uma conversa até resolver um conflito, pedir ajuda ou expressar sentimentos.
No caso do autismo, os grupos de habilidades sociais são adaptados às necessidades específicas dos participantes. Eles respeitam o perfil sensorial, cognitivo e comunicacional de cada indivíduo, oferecendo atividades com alto grau de previsibilidade, mediação cuidadosa e propostas acessíveis.
Durante os encontros, são utilizadas técnicas como modelagem, role-playing, vídeos sociais, histórias ilustradas, jogos cooperativos e dinâmicas de grupo. Tudo isso com o objetivo de construir experiências sociais positivas e transferíveis para o cotidiano.
A importância dos grupos de habilidades sociais para o autismo
Pessoas com autismo frequentemente apresentam dificuldades em compreender nuances da comunicação verbal e não verbal. Expressões faciais, tom de voz, metáforas ou piadas podem ser confusas e gerar desconforto. Além disso, a rigidez de pensamento e a dificuldade em aceitar mudanças impactam diretamente a flexibilidade social, essencial para a convivência em grupo.
Os grupos de habilidades sociais oferecem um ambiente protegido e encorajador onde a criança pode, sem medo de julgamento, praticar aquilo que é difícil em contextos naturais. É uma espécie de laboratório social que antecede e prepara para os desafios do mundo real.
Estudos apontam que a participação regular em grupos de habilidades sociais melhora significativamente a competência social de crianças autistas, reduz comportamentos de isolamento, aumenta a empatia e fortalece o repertório verbal e não verbal.
Grupos de habilidades sociais e o desenvolvimento da comunicação
A comunicação social vai além da fala. Ela envolve a capacidade de perceber o outro, entender contextos, ajustar o próprio comportamento à situação e manter trocas significativas. Nos grupos de habilidades sociais, esse tipo de comunicação é desenvolvido com paciência, estímulo e estrutura.
Durante as sessões, os participantes aprendem a iniciar conversas, fazer perguntas, manter contato visual de forma confortável, usar gestos e interpretar os sinais do interlocutor. O profissional responsável por conduzir o grupo atua como facilitador dessas trocas, oferecendo feedback imediato, apoio visual e reforço positivo.
A comunicação alternativa também é contemplada nos grupos de habilidades sociais. Crianças não verbais ou com fala emergente podem utilizar recursos visuais, tablets ou gestos para se expressar e são igualmente incluídas nas dinâmicas.
Grupos de habilidades sociais e o fortalecimento emocional
Outro benefício importante dos grupos de habilidades sociais é a possibilidade de trabalhar a identificação e a regulação das emoções. Muitas crianças com autismo têm dificuldade em nomear o que sentem, interpretar emoções alheias ou reagir de forma adequada a diferentes situações sociais.
Nos grupos de habilidades sociais, são desenvolvidas atividades específicas para reconhecer expressões faciais, entender o que significa estar bravo, frustrado, com medo ou feliz. A partir dessa compreensão, a criança aprende formas mais adaptadas de lidar com suas emoções e de responder ao comportamento dos outros.
Além disso, o grupo se torna um espaço de escuta e validação. A criança percebe que outras pessoas também sentem dificuldades parecidas com as dela. Isso fortalece a autoestima, reduz a solidão e promove vínculos positivos.
Grupos de habilidades sociais e a promoção da autonomia
Autonomia não é sinônimo de independência absoluta. É a capacidade de tomar decisões, fazer escolhas e participar ativamente da própria vida. Os grupos de habilidades sociais favorecem o desenvolvimento da autonomia ao ensinar habilidades funcionais aplicáveis ao dia a dia.
As crianças aprendem a esperar sua vez, a pedir ajuda, a negociar preferências, a expressar desconforto de forma respeitosa e a se posicionar em grupo. Essas habilidades são fundamentais para o contexto escolar, familiar e comunitário.
Além disso, a prática repetida e encorajada dentro do grupo aumenta a autoconfiança da criança, que passa a se sentir mais segura para interagir fora daquele espaço.
Grupos de habilidades sociais e a redução da ansiedade social
A ansiedade social é muito comum entre pessoas com autismo. O receio de não entender as regras de uma interação, de ser mal interpretado ou de enfrentar situações imprevisíveis pode levar a evitação social, isolamento e sofrimento emocional.
Nos grupos de habilidades sociais, as interações são planejadas, o ambiente é controlado e os participantes sabem exatamente o que esperar. Isso reduz os níveis de ansiedade e torna a socialização mais previsível, acessível e agradável.
Com o tempo, a criança passa a generalizar essas aprendizagens para outros ambientes, participando com mais confiança de festas, grupos escolares e atividades comunitárias.
Grupos de habilidades sociais como ponte para a inclusão
A inclusão verdadeira não acontece apenas quando a criança está presente em um espaço. Ela ocorre quando há participação ativa, respeito às diferenças e apoio concreto para que todos possam se desenvolver. Os grupos de habilidades sociais atuam como ponte entre o ambiente terapêutico e o ambiente natural, facilitando essa transição.
A criança que participa de grupos de habilidades sociais tem mais repertório para lidar com situações cotidianas, mais recursos internos para expressar suas necessidades e mais ferramentas para lidar com frustrações.
Além disso, o grupo também beneficia os colegas neurotípicos e os adultos envolvidos, que aprendem a enxergar as diferenças com mais empatia e menos preconceito.
Considerações finais
Os grupos de habilidades sociais são muito mais do que uma intervenção terapêutica. Eles são espaços de construção de pertencimento, de valorização da singularidade e de ampliação das possibilidades de conexão para pessoas com autismo.
Inserir crianças autistas em grupos de habilidades sociais é um investimento na autonomia, na comunicação, nas relações e, sobretudo, no direito de ser quem se é, com acolhimento e propósito.
Como profissionais da saúde, educadores e cuidadores, nosso papel é oferecer caminhos acessíveis para que o desenvolvimento social seja possível sem imposições, mas com escuta, estratégia e afeto.
Assinatura oficial da autora:
Artigo escrito pela Dra. Letícia Bringel, psicóloga especialista em Autismo (CRP 23/504), Mestra em ABA pela PUC/GO, Supervisora CABA BR 2024/005 e CEO do Grupo Estímulos e da Comunidade Estímulos Brasil.
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