Diagnóstico precoce do autismo: o que revela o novo estudo do CDC sobre crianças de 8 anos

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A cada novo estudo sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA), somos lembrados da importância do olhar atento e das ações concretas que envolvem o diagnóstico precoce. Um levantamento recente do Centers for Disease Control and Prevention (CDC), dos Estados Unidos, revela dados que não apenas surpreendem, mas também reforçam a necessidade de ampliar o acesso à avaliação e ao acompanhamento de crianças desde os primeiros sinais.

Segundo esse relatório de 2020, realizado pela Autism and Developmental Disabilities Monitoring Network (ADDM), uma em cada 36 crianças de 8 anos foi diagnosticada com autismo. Esse número representa um aumento expressivo em relação a anos anteriores e aponta, com clareza, para a evolução das estratégias de identificação, além de destacar novos desafios que precisam ser enfrentados.

O que os dados dizem sobre o diagnóstico precoce do autismo

Entre os principais achados do estudo, estão a prevalência média de 27,6 casos a cada mil crianças, com variações entre os estados norte-americanos. Pela primeira vez, observou-se maior incidência de autismo entre crianças negras, hispânicas e asiáticas do que entre crianças brancas. Esse dado representa um marco importante, pois sinaliza que o diagnóstico precoce está chegando a grupos historicamente negligenciados em relação ao acesso à saúde.

Outro ponto relevante é a idade média do primeiro diagnóstico de autismo: 49 meses, ou seja, pouco mais de quatro anos. Essa média, embora mais baixa do que em décadas passadas, ainda está acima da idade ideal recomendada por especialistas, que defendem o diagnóstico precoce já por volta dos dois anos de idade, quando os primeiros sinais comportamentais do TEA costumam se manifestar.

Por que o diagnóstico precoce é tão importante para o autismo

Identificar o autismo o mais cedo possível significa oferecer à criança maiores oportunidades de desenvolver habilidades sociais, de comunicação e de autorregulação. Quanto mais precoce o diagnóstico, mais eficaz tende a ser a intervenção.

O cérebro infantil apresenta uma plasticidade acentuada nos primeiros anos de vida. Isso quer dizer que ele responde melhor aos estímulos de aprendizagem nesse período. Quando um diagnóstico precoce é realizado, a criança pode ser inserida em programas de intervenção baseados em evidências, como a Análise do Comportamento Aplicada (ABA), com chances reais de melhorar sua funcionalidade e independência.

Exemplo prático

Lucas tinha pouco mais de dois anos quando a mãe notou que ele não respondia ao seu nome e evitava o contato visual. A pediatra orientou a família a aguardar mais tempo, alegando que “cada criança tem seu tempo”. Foi apenas aos quatro anos, após muita insistência da família e a ajuda de uma professora da creche, que ele recebeu o diagnóstico formal de autismo. A intervenção só começou aos cinco anos, e, mesmo com muitos avanços desde então, os pais de Lucas ainda se perguntam o quanto a trajetória poderia ter sido diferente com um diagnóstico precoce.

Casos como o de Lucas ainda são comuns, mesmo com a ampla divulgação de informações sobre o autismo. A história da sua família nos convida a refletir sobre a importância da escuta, da sensibilidade dos profissionais de saúde e da confiança nas percepções dos cuidadores.

O diagnóstico precoce como ferramenta de equidade

Outro aspecto apontado pelo estudo é o impacto do nível socioeconômico no acesso ao diagnóstico precoce. Em algumas regiões, a prevalência de diagnóstico foi maior entre crianças de famílias com menor renda, revelando não apenas um avanço nas políticas públicas, mas também desigualdades que ainda precisam ser combatidas.

Garantir o diagnóstico precoce para todas as crianças, independentemente de sua raça, etnia ou classe social, é uma questão de justiça. Famílias em situação de vulnerabilidade ainda enfrentam barreiras como a escassez de serviços especializados, falta de informação e preconceitos que dificultam o acesso a avaliações completas.

A relação entre deficiência intelectual e diagnóstico precoce

O relatório também aponta que crianças com TEA associadas à deficiência intelectual tendem a receber o diagnóstico mais cedo. Isso pode estar relacionado ao fato de que, nesses casos, os sinais são mais evidentes, como atrasos importantes no desenvolvimento da linguagem ou dificuldades motoras. No entanto, é essencial lembrar que muitas crianças autistas apresentam habilidades cognitivas preservadas ou até acima da média. Nesses casos, o diagnóstico precoce pode ser mais difícil justamente porque os sinais são sutis e confundidos com traços de personalidade ou “timidez”.

Esse dado nos alerta para a necessidade de ampliar a capacitação dos profissionais de saúde e educação para que saibam identificar os sinais do autismo em toda sua diversidade.

A importância da escuta e da rede de apoio no diagnóstico precoce

Para que o diagnóstico precoce aconteça, é fundamental que famílias, escolas e profissionais de saúde trabalhem juntos. Professores da educação infantil, por exemplo, costumam ser os primeiros a observar dificuldades de socialização, brincadeiras repetitivas ou ausência de comunicação verbal. Quando essa percepção é acolhida e encaminhada com seriedade, a criança pode ter acesso rápido à avaliação e intervenção.

Além disso, as campanhas de conscientização e os grupos de apoio às famílias desempenham papel essencial ao reduzir o estigma em torno do autismo e incentivar a busca por ajuda desde os primeiros sinais. Ninguém conhece melhor uma criança do que aqueles que convivem com ela todos os dias, e é preciso valorizar essa escuta.

O cenário pós-pandemia e os novos desafios para o diagnóstico precoce

O relatório do CDC também destaca a intenção de continuar monitorando os dados ao longo dos próximos anos, especialmente para avaliar o impacto da pandemia de COVID-19. Muitas famílias enfrentaram dificuldades de acesso a serviços de saúde, avaliações presenciais e intervenções terapêuticas durante esse período, o que pode ter comprometido o diagnóstico precoce de muitas crianças.

Esse alerta reforça a necessidade de fortalecer os sistemas de saúde, ampliar o número de profissionais capacitados e criar políticas públicas que facilitem o acesso aos serviços de avaliação e acompanhamento. O diagnóstico precoce deve ser garantido como parte do direito à saúde e à educação.

Quando o diagnóstico precoce transforma vidas

Embora os dados revelem um aumento importante na taxa de identificação do autismo, o principal impacto positivo é sentido dentro de cada casa, em cada história. Um diagnóstico precoce não encerra uma fase, mas abre caminhos. Ele permite compreender comportamentos que antes eram vistos como desobediência, reconhecer formas diferentes de aprender e criar estratégias para ampliar a autonomia da criança.

A partir desse diagnóstico, a família também se reorganiza, passa a buscar conhecimento e constrói uma nova rotina com mais suporte, menos culpa e mais esperança. O diagnóstico precoce, portanto, transforma não só a vida da criança, mas de toda a rede que a cerca.

Conclusão

O estudo do CDC reafirma uma verdade urgente: o diagnóstico precoce do autismo precisa ser uma prioridade em qualquer sociedade que valorize a infância e a diversidade humana. Quanto mais cedo conseguimos identificar o TEA, maiores são as chances de oferecer à criança um percurso de desenvolvimento pleno, com qualidade de vida e dignidade.

Esse é um compromisso que deve envolver governos, profissionais, escolas, famílias e toda a comunidade. Precisamos garantir que nenhuma criança seja invisibilizada ou deixada para trás por falta de acesso, informação ou sensibilidade. O diagnóstico precoce salva trajetórias. E todo esforço para que ele aconteça vale a pena.

Assinatura oficial:

Artigo escrito pela Dra. Letícia Bringel, psicóloga especialista em Autismo (CRP 23/504), Mestra em ABA pela PUC/GO, Supervisora CABA BR 2024/005 e CEO do Grupo Estímulos e da Comunidade Estímulos Brasil.

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