Compreendendo o Stimming: uma forma de expressão sensorial, emocional e afetiva no autismo

Falar sobre compreendendo o stimming é abrir espaço para uma das manifestações mais singulares da neurodiversidade. Para muitas pessoas autistas, o stimming é uma parte essencial de como se relacionam com o mundo. Ao observar uma criança que balança o corpo, movimenta as mãos de forma repetitiva ou emite sons específicos, é comum que adultos se perguntem o que aquilo significa. A resposta, muitas vezes, está no coração do funcionamento sensorial e emocional daquela criança.
Compreendendo o stimming como um comportamento legítimo e funcional, conseguimos oferecer mais respeito, cuidado e dignidade àqueles que vivem no espectro autista. Este artigo tem como objetivo lançar luz sobre o tema, trazendo informações baseadas em evidências, sensibilidade clínica e estratégias práticas para famílias e profissionais.
Compreendendo o stimming
A palavra stimming vem do inglês “self-stimulatory behavior”, que significa comportamento autoestimulatório. Esses comportamentos repetitivos podem incluir movimentos corporais (como balançar-se, bater palmas, girar objetos), vocalizações (como zumbidos, repetições de sons ou palavras) e até manipulação de objetos de forma repetida. Quando olhamos com atenção e empatia, compreendendo o stimming torna-se mais fácil: trata-se de uma estratégia de autorregulação.
Ao contrário do que muitas pessoas pensam, o stimming não é algo que deve ser eliminado. Em vez disso, é importante compreender o porquê de sua ocorrência. Muitas vezes, o stimming está presente desde os primeiros anos de vida e pode ser um dos sinais precoces do Transtorno do Espectro Autista. Ele pode se intensificar em situações de ansiedade, excitação, frustração ou até mesmo prazer.
Compreendendo o stimming como uma forma de regulação sensorial e emocional
Para entender a função do stimming, podemos imaginar uma criança em um ambiente cheio de ruídos, cheiros fortes e luzes intensas. Esse excesso de estímulos pode ser tão avassalador que o cérebro da criança busca uma forma de se reorganizar. Ao repetir um movimento, um som ou um gesto, ela cria um “ponto de referência sensorial” que ajuda a diminuir o caos interno. Assim, compreendendo o stimming percebemos que ele atua como um “abraço neurológico”, uma maneira da pessoa se sentir segura no próprio corpo.
Por outro lado, há também situações de subestimulação. Quando o ambiente está monótono, a criança pode usar o stimming como forma de obter mais estímulos. Isso acontece, por exemplo, quando ela gira um brinquedo ou repete uma frase com uma melodia específica. Nesse contexto, o stimming funciona como um “acendedor” para o cérebro, trazendo movimento, som e previsibilidade.
Além disso, o stimming pode ocorrer como uma expressão de alegria. Muitas crianças autistas balançam as mãos quando estão entusiasmadas, pulam quando ficam felizes ou emitem sons específicos ao se sentirem animadas. Compreendendo o stimming, deixamos de vê-lo como um problema e passamos a valorizá-lo como parte do repertório expressivo de cada indivíduo.
O papel dos pais e cuidadores ao compreendendo o stimming
É natural que pais, ao presenciarem os stimmings, se sintam inseguros ou preocupados. Isso acontece especialmente quando o comportamento chama atenção em locais públicos ou gera olhares curiosos. No entanto, compreendendo o stimming como uma necessidade sensorial ou emocional, é possível desenvolver um novo olhar: menos julgador e mais protetor.
O primeiro passo é observar o contexto em que o stimming ocorre. A criança faz isso quando está ansiosa? Quando está entediada? Quando está feliz? Essa observação é fundamental para identificar a função do comportamento. Compreendendo o stimming em cada situação, os pais podem decidir com mais sabedoria quando intervir e quando simplesmente acolher.
Intervenções devem acontecer somente quando o stimming for prejudicial ou impedir o aprendizado e a convivência. Por exemplo, um stimming que envolve bater a cabeça precisa ser redirecionado para preservar a integridade física. Mas balançar as mãos enquanto espera ou cantarolar enquanto brinca pode ser simplesmente uma expressão legítima e adaptativa.
Quando o stimming se torna um desafio para o desenvolvimento
Embora compreendendo o stimming seja essencial para promover aceitação, também é importante reconhecer quando o comportamento se torna um obstáculo para o desenvolvimento. Isso acontece quando o stimming interfere na atenção, na interação com os outros ou nas habilidades funcionais. Um exemplo é quando a criança passa longos períodos em comportamentos repetitivos e deixa de explorar o ambiente ou participar de atividades importantes.
Nesses casos, a estratégia mais indicada não é suprimir o stimming, mas oferecer alternativas. Redirecionar o comportamento para uma atividade mais funcional e igualmente estimulante pode ajudar a criança a se regular sem comprometer seu desenvolvimento. Compreendendo o stimming como um sinal de necessidade, conseguimos pensar em respostas mais respeitosas e eficazes.
Estratégias práticas para manejar o stimming com sensibilidade
Existem diversas formas de manejar o stimming com base no entendimento de suas funções. A seguir, apresentamos algumas estratégias eficazes e empáticas, sempre alinhadas ao princípio da dignidade humana.
- Modificar o ambiente: observe se há estímulos sensoriais que estão provocando o stimming. Muitas vezes, reduzir o barulho, ajustar a luz ou trocar o tecido da roupa já traz conforto.
- Oferecer atividades alternativas: compreendendo o stimming como uma forma de busca por estimulação, ofereça brinquedos sensoriais, movimentos corporais organizados (como dança, corrida ou pula-pula) ou instrumentos musicais simples.
- Promover pausas sensoriais: em locais públicos, disponibilize fones de ouvido com isolamento de som, óculos escuros ou um cantinho silencioso para que a criança se sinta segura.
- Usar histórias sociais: explique o stimming com naturalidade por meio de livros ilustrados, jogos ou vídeos educativos. Isso ajuda a criança a se reconhecer e aos outros a compreenderem melhor.
- Redirecionar com afeto: se o stimming estiver prejudicando a aprendizagem, ofereça uma alternativa em tom gentil. “Vamos guardar as mãozinhas por um momento e brincar com o cubo sensorial?”
Compreendendo o stimming de forma respeitosa, é possível equilibrar a liberdade da criança com os desafios da convivência e do aprendizado.
Quando buscar apoio profissional
Em alguns casos, o stimming pode estar associado a dor, desconforto interno ou transtornos associados. Uma criança que morde a mão constantemente, por exemplo, pode estar tentando comunicar dor de dente ou ansiedade intensa. Por isso, é sempre recomendável que os cuidadores consultem um profissional da saúde especializado em autismo, como psicólogos, terapeutas ocupacionais e analistas do comportamento.
A Análise do Comportamento Aplicada (ABA) oferece ferramentas para investigar a função do stimming e propor intervenções baseadas em dados, sempre respeitando o perfil individual da criança. O objetivo nunca será “normalizar” a criança, mas ajudá-la a ampliar sua participação social com segurança e bem-estar.
Compreendendo o stimming como expressão legítima de identidade
Ao longo dos últimos anos, a comunidade autista tem reivindicado o direito de manter seus stimmings, especialmente quando não são prejudiciais. Muitos adolescentes e adultos autistas relatam que o stimming os ajuda a organizar o pensamento, a aliviar o estresse e a se reconectar com o próprio corpo. Compreendendo o stimming, também acolhemos a diversidade de formas de ser e estar no mundo.
Em ambientes escolares, profissionais preparados podem explicar o stimming para os colegas de forma natural e respeitosa, promovendo inclusão e diminuindo o estigma. Nas famílias, criar uma cultura de aceitação é o maior presente que podemos oferecer.
Conclusão
Compreendendo o stimming, abrimos portas para um relacionamento mais profundo e empático com crianças e adultos autistas. Esses comportamentos repetitivos não são falhas ou desvios, mas formas legítimas de regulação e expressão. O nosso papel, enquanto profissionais e cuidadores, é garantir que o stimming seja acolhido, compreendido e, quando necessário, redirecionado com segurança e afeto.
Ao invés de apagar o que é diferente, precisamos escutar. Ao invés de corrigir, podemos cuidar. E ao compreender o stimming, ajudamos cada indivíduo a florescer exatamente do jeito que é.
Assinatura oficial da autora:
Artigo escrito pela Dra. Letícia Bringel, psicóloga especialista em Autismo (CRP 23/504), Mestra em ABA pela PUC/GO, Supervisora CABA BR 2024/005 e CEO do Grupo Estímulos e da Comunidade Estímulos Brasil.
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