Férias e a autonomia nas crianças com TEA

Introdução

As férias são sempre aguardadas com entusiasmo por muitas famílias. Para quem vive a realidade do Transtorno do Espectro Autista (TEA), esse período pode trazer alguns desafios inesperados, especialmente pela quebra de rotina. Mas há também uma face potente nesse intervalo: o tempo livre se transforma em oportunidade para desenvolver habilidades de vida com leveza, presença e vínculo.

No Grupo Estímulos, compreendemos que a autonomia nas crianças com TEA não é apenas um marco de desenvolvimento. É uma expressão de dignidade, de respeito pela individualidade e de confiança em suas capacidades. Promover essa autonomia é uma forma de cuidado, e cada pequena conquista é um passo em direção à independência funcional.

O que significa autonomia para crianças com TEA?

Autonomia, segundo Ayres (2005), envolve a capacidade de cuidar de si, tomar pequenas decisões, comunicar desejos e organizar-se de forma adaptativa no cotidiano. Para crianças com TEA, esse processo acontece em um ritmo singular e precisa ser construído com base em estratégias individualizadas e consistentes.

Promover autonomia não significa ensinar a fazer sozinho. Significa oferecer os apoios necessários para que a criança possa desenvolver habilidades com segurança. Isso inclui o uso de suportes visuais, reforço positivo e modelagem de comportamentos funcionais.

Durante as férias, quando o ambiente pode ser mais flexível, surgem momentos espontâneos que favorecem esse aprendizado. Escolher uma roupa, montar o próprio lanche, ajudar a organizar os brinquedos ou seguir uma rotina ilustrada. Cada uma dessas ações, quando guiada com intenção, pode se tornar uma poderosa intervenção.

Avaliação funcional

Nenhuma construção é possível sem conhecer o terreno. Para promover autonomia nas crianças com TEA, é fundamental entender em que ponto cada criança está em seu desenvolvimento. Ferramentas como o ABLLS-R (Assessment of Basic Language and Learning Skills – Revised) e o Vineland (Vineland Adaptive Behavior Scales) são amplamente utilizadas por profissionais para mapear habilidades adaptativas.

Mas os pais também podem observar a rotina com atenção e sensibilidade. Perguntas simples ajudam a identificar oportunidades de estímulo:

Meu filho consegue seguir instruções com apoio visual?

Ele já pede ajuda ou precisa ser guiado para expressar o que quer?

Consegue guardar brinquedos ou organizar objetos com supervisão?

Esses pequenos sinais revelam quais áreas já estão consolidadas e quais podem ser estimuladas com mais ênfase, sempre respeitando o tempo e o interesse da criança.

Estratégias para estimular autonomia nas férias

Férias não precisam ser sinônimo de pausa no desenvolvimento. Pelo contrário, elas podem ser o palco ideal para aplicar estratégias de autonomia de forma leve e afetiva. A seguir, compartilho algumas práticas eficazes:

Crie rotinas visuais. Utilize imagens, desenhos ou fotos reais para ilustrar as atividades do dia, como acordar, tomar café, escovar os dentes e brincar. Isso dá previsibilidade e segurança à criança com TEA.

Use checklists ilustrados. Para tarefas como arrumar a cama, colocar a roupa no cesto ou guardar brinquedos, listas visuais com passos simples ajudam a organizar a sequência e promover independência.

Modele os comportamentos. Demonstre cada etapa de uma atividade antes de pedir que a criança tente. A modelagem, associada ao reforço positivo, como elogios, palmas ou recompensas, aumenta a chance de sucesso.

Adapte o ambiente. Disponibilize utensílios funcionais, talheres engrossados, escovas com apoio, bancos de apoio no banheiro, para facilitar a execução das tarefas com segurança.

Essas estratégias são respaldadas por princípios da Análise do Comportamento Aplicada, conforme descrito por Cooper, Heron e Heward (2020), e demonstram como o ambiente e a metodologia fazem diferença no ensino de comportamentos funcionais.

Família e escola: uma parceria que se estende nas férias

A relação entre família e escola é essencial durante o ano letivo, mas não termina com o recesso. Mesmo fora da rotina escolar, a aprendizagem continua. Talvez até com mais fluidez, já que o ambiente doméstico permite flexibilidade, ausência de cobranças e, muitas vezes, mais tempo de qualidade com os cuidadores.

Esse é o momento ideal para consolidar o que já foi aprendido e também incluir a criança com TEA nas pequenas decisões do dia a dia. Escolher entre duas roupas, montar o próprio lanche, decidir qual jogo brincar. Essas ações simples nutrem a autoestima e favorecem a autonomia.

Autonomia e autoestima caminham juntas

Quando a criança com TEA conquista algo por si, mesmo que com apoio parcial, ela experimenta um sentimento precioso: eu consigo. Essa vivência é fortalecedora. Ao perceber sua própria capacidade, a criança desenvolve senso de competência, passa a se engajar mais ativamente em novas experiências e se sente incluída de forma genuína.

Valorizar o processo, e não apenas o resultado final, é fundamental. Ajudar uma criança a calçar os sapatos, por exemplo, pode ser frustrante nos primeiros dias, mas com paciência e reforço ela aprenderá. Cada tentativa conta. Cada esforço merece reconhecimento. A cada passo, a autoestima cresce, e junto dela, o desejo de experimentar o mundo com mais autonomia.

Conclusão

Desenvolver autonomia nas crianças com TEA é um processo contínuo, mas que pode ser prazeroso. Com criatividade, paciência e um olhar acolhedor, as rotinas familiares se transformam em verdadeiros espaços terapêuticos.

As férias são um convite para desacelerar, conviver e ensinar com o coração. Quando cuidamos para que a criança com TEA participe ativamente da vida ao seu redor, estamos oferecendo algo muito maior que independência. Estamos dizendo que ela pertence, que é capaz e que está segura para explorar o mundo ao seu modo.

No Grupo Estímulos, seguimos ao lado de cada família nessa jornada. Porque cada passo rumo à autonomia é também um passo em direção à dignidade, à inclusão e à construção de um futuro com mais propósito.

Assinatura oficial da autora:

Artigo escrito pela Dra. Letícia Bringel, psicóloga especialista em Autismo (CRP 23/504), Mestra em ABA pela PUC/GO, Supervisora CABA BR 2024/005 e CEO do Grupo Estímulos e da Comunidade Estímulos Brasil.

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