Autismo no Brasil: o que os dados do Censo 2022 revelam sobre o TEA

autismo no Brasil

O autismo no Brasil deixou de ser invisível aos olhos do Estado. Pela primeira vez na história do país, o Censo Demográfico de 2022, conduzido pelo IBGE, incluiu perguntas específicas sobre o diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista (TEA). Esse marco não é apenas estatístico, mas representa um passo fundamental para reconhecer e entender melhor a realidade de milhões de brasileiros com autismo no Brasil.

Em um país de dimensões continentais, onde as desigualdades sociais e o acesso à saúde ainda são grandes desafios, conhecer os números é o primeiro passo para transformar vidas. Neste artigo, vamos explorar o que os dados do Censo nos dizem sobre o autismo no Brasil, analisando suas implicações para a educação, políticas públicas e a dignidade das pessoas neurodivergentes.

Quantas pessoas vivem com autismo no Brasil?

Segundo o Censo de 2022, 2,4 milhões de brasileiros declararam ter sido diagnosticados com TEA, o que representa 1,2% da população. Para se ter uma ideia da dimensão, isso equivale à população de uma cidade como Curitiba. Esse número, inédito até então, permite uma nova compreensão sobre o impacto do autismo no Brasil.

É importante ressaltar que essa taxa é ainda conservadora. Diversos especialistas apontam que o número real pode ser maior, considerando o subdiagnóstico em regiões com menor acesso a serviços especializados. A Organização Mundial da Saúde (OMS), por exemplo, estima que cerca de 1 em cada 100 crianças no mundo apresenta TEA — e a taxa global tende a crescer com a ampliação dos critérios diagnósticos e maior conscientização da população.

Gênero e idade

O autismo no Brasil afeta mais meninos do que meninas. Entre os homens, a prevalência é de 1,5%, enquanto entre as mulheres é de 0,9%. Essa diferença também aparece de forma mais acentuada na faixa etária entre 5 e 9 anos, com 3,8% dos meninos e 1,3% das meninas diagnosticadas com TEA.

Esse dado reforça o que a literatura científica já vem apontando: o autismo costuma ser subdiagnosticado em meninas. Muitos sintomas podem se apresentar de maneira diferente no sexo feminino, com estratégias de camuflagem social que dificultam a detecção precoce. Por isso, é essencial investir em formação continuada de profissionais e em instrumentos diagnósticos sensíveis à diversidade de manifestações do TEA.

Educação e inclusão

Dos brasileiros com autismo no Brasil, 508 mil crianças e adolescentes estão matriculados no ensino fundamental. Esse número representa 66,8% dos estudantes diagnosticados com TEA. No ensino médio, são 93,6 mil adolescentes autistas frequentando as escolas, totalizando 1,2% da população escolar do segmento.

A taxa de escolarização entre pessoas com autismo no Brasil é de 36,9% — curiosamente maior do que a taxa da população geral sem diagnóstico, que é de 24,3%. Esse dado se deve à concentração de pessoas com TEA em idade escolar (principalmente entre 6 e 14 anos) e à mobilização crescente das famílias por educação inclusiva.

Contudo, a permanência e o desenvolvimento dentro da escola ainda são desafios diários. Muitas crianças autistas enfrentam barreiras estruturais e pedagógicas, além da falta de preparo da equipe escolar para lidar com suas necessidades específicas. É nesse ponto que a Análise do Comportamento Aplicada (ABA) tem se mostrado uma aliada valiosa, oferecendo estratégias baseadas em evidências que promovem aprendizado funcional e autonomia.

A importância da visibilidade

Falar sobre autismo no Brasil, com base em dados concretos, é um gesto político e humanizador. Quando enxergamos as estatísticas, conseguimos construir políticas públicas mais eficazes, alocar recursos de maneira estratégica e, principalmente, acolher as famílias com respostas reais.

A falta de dados até então dificultava o acesso a direitos básicos, como saúde, educação e trabalho. Agora, com o reconhecimento do autismo no Brasil em números oficiais, é possível avançar na luta por dignidade e pertencimento.

Autismo no Brasil e deficiência

Além do TEA, o Censo 2022 também atualizou os dados sobre pessoas com deficiência no Brasil. Segundo o levantamento, 14,4 milhões de brasileiros têm algum tipo de deficiência (visual, auditiva, motora ou intelectual), representando 7,3% da população. Dentre esses, muitos convivem com diagnósticos múltiplos, incluindo o autismo.

Essa interseção é importante porque as políticas públicas devem contemplar não apenas o diagnóstico isolado, mas a complexidade de cada sujeito. Uma criança com autismo e deficiência visual, por exemplo, terá demandas distintas de uma criança apenas com TEA. Isso reforça a necessidade de uma abordagem transdisciplinar e personalizada no cuidado e nas intervenções.

Uma história que representa milhares

Vamos imaginar a história de Davi, um menino de 7 anos, diagnosticado com TEA aos 3. Morador de uma pequena cidade do interior, ele só conseguiu iniciar o tratamento adequado quando a mãe, dona Luiza, conseguiu uma vaga para atendimento especializado a 80 km de distância. Sem carro, ela dependia de caronas e da boa vontade de vizinhos para levar o filho até o centro de reabilitação uma vez por semana.

Com o início das sessões de intervenção comportamental, Davi passou a fazer contato visual, iniciou a fala funcional e começou a frequentar a escola com o apoio de uma atendente terapêutica. Hoje, ele já consegue brincar com os colegas, pedir ajuda quando precisa e participa das aulas com adaptações.

A história de Davi mostra, na prática, o que os dados revelam: quando há diagnóstico, apoio e política pública, a vida das pessoas com autismo no Brasil pode se transformar profundamente.

Caminhos para o futuro

Conhecer os dados é apenas o começo. Para transformar a realidade do autismo no Brasil, precisamos de políticas públicas integradas, formação profissional continuada, apoio às famílias e investimentos em práticas baseadas em evidências.

A ciência tem nos mostrado que quanto mais cedo a intervenção, maiores são os ganhos em desenvolvimento, linguagem e qualidade de vida. Isso torna urgente o fortalecimento da rede básica de saúde e educação para que o diagnóstico precoce e o tratamento cheguem a todos, inclusive nas regiões mais remotas.

Além disso, é fundamental ouvir as vozes das próprias pessoas autistas. A inclusão real acontece quando há escuta, respeito e participação ativa de quem vive essa experiência todos os dias.

Conclusão

Os dados inéditos sobre o autismo no Brasil revelam mais do que estatísticas: apontam para a existência de milhões de pessoas que agora podem ser vistas, consideradas e incluídas. Mais do que números, são histórias, trajetórias, famílias e sonhos.

O desafio agora é coletivo. A sociedade brasileira precisa se mobilizar para garantir que o autismo no Brasil não seja apenas um dado no Censo, mas um compromisso diário com a inclusão, a dignidade e o respeito à neurodiversidade.

Assinatura da autora:
Artigo escrito pela Dra. Letícia Bringel, psicóloga especialista em Autismo (CRP 23/504), Mestra em ABA pela PUC/GO, Supervisora CABA BR 2024/005 e CEO do Grupo Estímulos e da Comunidade Estímulos Brasil.

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