Comunicação aumentativa: promovendo linguagem funcional e inclusão real

Introdução
Toda criança tem o direito de se comunicar. Esse princípio, tão básico e tão essencial, é muitas vezes ameaçado quando falamos de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA), apraxia de fala ou outras condições que afetam significativamente a linguagem verbal. Para essas crianças, a ausência da fala não pode e não deve significar ausência de expressão. É nesse contexto que a comunicação aumentativa se apresenta como uma ponte poderosa entre a criança e o mundo.
Na prática clínica do Grupo Estímulos, observamos diariamente como a implementação da comunicação aumentativa transforma não apenas a vida da criança, mas de toda a família. O olhar da fonoaudiologia vai além da técnica. É um olhar que identifica potenciais, respeita singularidades e constrói caminhos possíveis para que a linguagem aconteça de forma funcional e significativa.
O que é comunicação aumentativa e por que ela importa?
A comunicação aumentativa ou comunicação aumentativa e alternativa (CAA), segundo Beukelman e Mirenda (2013), é um conjunto de estratégias, métodos e recursos que complementam ou substituem a fala. Ela não é uma alternativa inferior para quem não fala, mas uma forma legítima de expressão humana. Inclui desde gestos e pranchas com figuras até aplicativos de voz e sistemas personalizados.
O objetivo principal da comunicação aumentativa é permitir que a criança se comunique de forma funcional em diferentes contextos. Em casa, na escola, com os amigos e terapeutas. Ela dá voz à criança não verbal, amplia as possibilidades da criança com fala limitada e oferece autonomia para quem, até então, dependia exclusivamente da leitura do outro.
Comunicação aumentativa e o desenvolvimento da fala: mito ou verdade?
Um dos maiores equívocos em torno da comunicação aumentativa é o medo de que ela atrapalhe o desenvolvimento da fala. No entanto, evidências científicas apontam justamente o contrário. Uma revisão feita por Millar, Light e Schlosser (2006) mostra que, em muitos casos, a introdução precoce da comunicação aumentativa favorece a aquisição da fala oral.
Isso acontece porque, ao reduzir a frustração comunicativa e ampliar a compreensão mútua, a comunicação aumentativa cria condições mais seguras e motivadoras para que a linguagem floresça. No Grupo Estímulos, sempre reforçamos que toda forma de comunicação é válida e nenhuma expressão deve ser descartada ou desvalorizada.
Sistemas de comunicação aumentativa: qual escolher?
Não existe uma fórmula única para todos. A escolha do sistema de comunicação aumentativa deve respeitar o perfil da criança. Seu repertório motor, cognitivo, sensorial e afetivo. Entre os sistemas mais utilizados estão:
PECS (Sistema de Comunicação por Troca de Figuras)
Pranchas de comunicação com símbolos gráficos
Aplicativos com saída de voz como LetMeTalk, Livox e CoughDrop
Rotinas visuais e tabelas de sentimentos
Sistemas gestuais próprios e adaptados
A funcionalidade deve ser sempre o critério principal. Se a criança consegue se expressar apontando figuras, se comunica com gestos ou utiliza um aplicativo para dizer “quero mais”, o sistema está cumprindo seu papel. O importante é que a comunicação aconteça e que o contexto favoreça sua utilização no dia a dia.
O papel da fonoaudiologia na comunicação aumentativa
A atuação da fonoaudiologia é central no processo de implantação da comunicação aumentativa. O fonoaudiólogo avalia o perfil comunicativo da criança, identifica os suportes necessários, seleciona os recursos mais adequados e treina os cuidadores para que a comunicação não fique restrita ao setting terapêutico.
Segundo Gomes e Bandini (2019), esse processo inclui também a formação de professores, terapeutas ocupacionais e outros profissionais envolvidos com a criança. O objetivo é garantir que a comunicação aumentativa seja compreendida, valorizada e utilizada de forma funcional em todos os ambientes. Quando todos os envolvidos entendem o valor da comunicação da criança, ela se sente ouvida, respeitada e parte ativa do mundo.
Superando barreiras no uso da comunicação aumentativa
Apesar dos avanços, ainda existem barreiras importantes. Entre elas:
A falta de informação sobre o que é e como usar a comunicação aumentativa
O preconceito com o uso de figuras ou gestos como forma de comunicação
A escassez de profissionais capacitados para orientar esse processo
No Grupo Estímulos, enfrentamos essas barreiras com formação continuada, acessibilidade de materiais e escuta ativa das famílias. Promovemos treinamentos com escolas, oferecemos recursos de baixo custo e reforçamos que toda forma de comunicação é válida. Seja pelo olhar, pelo gesto, pela prancha ou pelo aplicativo. O que importa é que a criança consiga se expressar e ser compreendida.
Comunicação funcional é comunicação com propósito
Mais do que nomear objetos ou repetir palavras, comunicar-se é participar do mundo. Quando a criança diz “quero brincar”, “estou com medo” ou “quero mais suco”, ela não está apenas vocalizando. Está se conectando, fazendo escolhas, expressando desejos e sentimentos.
A comunicação aumentativa viabiliza essa troca com o ambiente. E quanto mais funcional ela for, mais engajamento a criança demonstra em outras áreas do desenvolvimento. A linguagem funcional não é apenas uma meta da terapia fonoaudiológica. É uma ponte real para vínculos afetivos, autonomia e inclusão.
Uma metáfora para refletir
Imagine que você acorda em um país onde não fala o idioma local. Você tenta se comunicar, mas ninguém entende. Aponta, gesticula, repete sons e ainda assim suas necessidades não são atendidas. Essa é a realidade de muitas crianças que ainda não têm acesso à comunicação aumentativa. Elas têm pensamentos, emoções e vontades, mas não encontram um canal viável para expressá-los.
Quando entregamos um recurso de comunicação aumentativa a uma criança, é como se lhe déssemos o mapa daquele país. Ela passa a navegar com mais segurança, a explorar possibilidades, a contar sua própria história. Esse é o verdadeiro poder da linguagem funcional.
A importância da escuta ativa
Implementar a comunicação aumentativa exige mais do que treinar habilidades. Exige escuta, paciência e sensibilidade. É necessário observar os interesses da criança, validar suas tentativas comunicativas e oferecer modelos consistentes de uso do sistema. Quando o adulto aponta junto, reforça, espera a resposta e comemora cada interação, a criança percebe que vale a pena tentar.
Essa escuta ativa precisa ser compartilhada por todos que convivem com a criança. Pais, professores, terapeutas e colegas. Só assim a comunicação aumentativa deixa de ser uma ferramenta isolada e se torna parte viva do cotidiano.
Conclusão
A comunicação aumentativa é muito mais do que um conjunto de recursos. Ela é um direito, uma possibilidade concreta de expressão e um instrumento potente de inclusão. Com base científica sólida, atuação interdisciplinar e sensibilidade clínica, é possível transformar a trajetória de crianças que, até então, não conseguiam dizer o que pensam, sentem ou desejam.
No Grupo Estímulos, acreditamos que comunicar é existir. E cada gesto, símbolo ou imagem utilizada com intenção amorosa abre caminho para vínculos mais profundos, aprendizagens mais significativas e uma vida com mais dignidade.
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Assinatura oficial da autora:
Artigo escrito pela Dra. Letícia Bringel, psicóloga especialista em Autismo (CRP 23/504), Mestra em ABA pela PUC/GO, Supervisora CABA BR 2024/005 e CEO do Grupo Estímulos e da Comunidade Estímulos Brasil.
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